Acúmulo
A chuva passa, a bagunça fica
Após o temporal, final de semana foi de moradores limpando a água e o barro que invadiu as casas
Carlos Queiroz -
O aguaceiro que iniciou no final da tarde de quinta-feira (25) havia parado já na manhã seguinte e se transformado em garoa e chuva mansa, mas para Maria Alice Nunes, 48, o transtorno durou bem mais do que dois dias. O sábado foi de jornada dupla de faxina. Primeiro na escola infantil em que trabalha na equipe de limpeza, no Fragata. Depois, em casa. Assim como ela, outros tantos pelotenses viram a água se acumular, deixar ruas praticamente intransitáveis e invadir casas levando junto barro, galhos e lixo.
Assim que chegou em casa na rua Carlos Gotuzzo Giacoboni, Maria, com a ajuda do irmão Vicente, 56, tratou de terminar a limpeza que havia iniciado na sexta. Do lado de fora a marca com 30 centímetros de altura na parede dava ideia do que enfrentou: a água suja subiu a calçada, ultrapassou a cozinha que fica logo na entrada e foi até a sala. Sofá e armários ficaram molhados. O fogão recém comprado, fruto de planejamento após algumas economias, teve que ser erguido sobre caixas para não ser danificado.
"A cada vez que chove mais forte é assim. A água sobe e vem aqui em casa. E, para piorar, com o trânsito de carros e ônibus as ondas são jogadas aqui para dentro", conta. Nem mesmo a barreira que fez com duas fileiras de tijolos na porta foi capaz de conter. "Já estou pensando em subir todo o piso da casa e até aumentar esse murinho", completa. A razão para os alagamentos frequentes, segundo Maria e os vizinhos, é que o local fica em uma parte baixa e o canal que deveria escoar o excesso de água está sempre sujo, cheio de lixo e galhos.
Restos de árvores, aliás, há aos montes acumulados em diversas esquinas no Laranjal, outro ponto bastante afetado a cada temporal na cidade. Rodos e vassouras não tiveram descanso nas mãos de muitos moradores no sábado e no domingo. Aos 55 anos, o freteiro Gerson Kneib mora na rua Porto Alegre e é vizinho das obras que estão sendo feitas na avenida Espírito Santo. Enquanto mostrava à reportagem até que ponto o barro atingiu o seu pátio e recolhia as folhas e galhos podres caídos das árvores, inclusive sobre os cabos de energia dos postes, contou que, quando chove forte, o único jeito de andar a pé na rua é usando botas. "Sempre acontece isso. Acho que a obra na Espírito Santo não vai solucionar o problema de drenagem, mas espero que melhore um pouco. Pior não pode ficar", reclama.
Em outros locais o cenário foi ainda mais crítico. Na rua Bagé ficou difícil identificar o que era a pista para os carros e onde já fazia parte dos gramados em frente às residências, tamanha a quantidade de chuva acumulada e sem local para escoar. Já na rua Gramado, carros andavam em zigue-zague no meio de imensas poças de barro, em uma espécie de rallye urbano. Nem mesmo a principal avenida do bairro escapou. Carros mergulhavam na água e pedestres foram obrigados a sair da calçada na avenida Rio Grande do Sul para tentar encontrar um caminho alternativo.
"Há 50 anos vivo aqui no Laranjal e nunca vimos uma solução. Meu pátio alagou, o pátio de vizinhos também. Não consigo entender para que servem as bocas de lobo se estão sempre entupidas. Trocam alguns canos enterrados nas ruas, mas de nada adianta." A bronca é da aposentada Nair Martins, 84. Com passo lento e amparada por uma bengala, tentava chegar em casa na rua Santo Angelo caminhando pelo meio da via, desviando do barro e da água.
Muita chuva em pouco tempo, diz prefeitura
De acordo com a prefeitura, o saldo diante das precipitações dos últimos dias e os transtornos que poderiam ter causado é até positivo. Conforme a Defesa Civil, toda a média de 112 milímetros esperada para o mês de maio caiu desde quinta. Mesmo assim, assegura o Sanep, poucos foram os pontos em que os alagamentos persistiram após algumas horas sem chuva.
"A área em que registramos o maior acúmulo foi o Laranjal, onde há um problema de macrodrenagem por influência da alta das águas do São Gonçalo, o que voltou a ocorrer na noite de sábado para domingo", explica o diretor-presidente da autarquia. Com relação ao Fragata, na região do entorno da rua Carlos Gotuzzo Giacoboni, Alexandre Garcia afirma que na semana passada foi feita uma operação de desobstrução do canal que dá vazão à água. No entanto, pontos de banhado e ocupações às margens impedem que toda a extensão seja limpa com o apoio de escavadeira.
Nesta segunda, a Secretaria de Serviços Urbanos e Infraestrutura (Ssui) dará início a uma operação para o recolhimento da sujeira concentrada. Equipes percorrerão os bairros da cidade para a coleta de lixo. "O patrolamento nas ruas mais danificadas terá que aguardar um pouco mais, pois precisamos que o tempo fique firme", detalha o secretário Jeferson Dutra.
Previsão
Embora o pior já tenha passado, esta semana ainda deve ser de instabilidade e com algumas pancadas de chuva. Desta segunda até quinta-feira o prognóstico aponta mais 33 milímetros de chuva, com temperatura máxima em torno de 20ºC e mínima podendo chegar a 7ºC. A tendência é que o sol volte a aparecer na sexta acompanhado de queda nos termômetros, com variação entre 5ºC e 17ºC.
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